Resumo
O astrocitoma difuso grau II, IDH-mutante, é um tumor de crescimento relativamente lento com um tempo médio de sobrevida de 3,9 a 10,8 anos. Contudo, sua infiltração no parênquima cerebral dificulta a ressecção total, cuja taxa bruta é em apenas 14 a 17% dos casos. Estes tumores apresentam desdiferenciação para tumores de alto grau com facilidade, com alto índice de mortalidade. A localização em tronco e diencéfalo constitui evento raro, visto que 90% das manifestações são supratentoriais. Há uma suscetibilidade genética ao desenvolvimento dos astrocitomas de baixo grau, e em 66% destes casos há mutações no gene p53. Os fatores de mau prognóstico destes tumores são: idade avançada, status de desempenho de Karnofsky (KPS) <70, déficits neurológicos anteriores, tumor maior que 6 cm, tumor cruzando a linha média e tumores não hemisféricos. Apresentamos relato de caso de paciente feminina, 54 anos, que procurou atendimento por quadro de cefaleia intensa e progressiva hemicraniana direita, tipo pulsátil, de início recente, associado a vertigem e soluços, sem outros déficits neurológicos focais. Posterior progressão do quadro clínico com estrabismo convergente e diplopia, disartria severa, disfagia grave, paresia grau 2 de predomínio proximal em dimídio direito, tremor em repouso, clônus esgotável em membros inferiores e Babinski positivo. Exames de neuroimagem com evidência de lesão glial em tronco e diencéfalo, com predomínio mesencefálico. A localização em tronco cerebral inviabiliza a total ressecção da lesão dado conjunto de estruturas nobres locais. Desta forma, a paciente é submetida à biópsia sendo evidenciado astrocitoma difuso IDH-mutante grau II (OMS). Apesar dos avanços no tratamento dos gliomas difusos, com estudos comparativos mostrando ganho de 5,5 anos de sobrevida com associação de quimioterapia e radioterapia, não há terapias curativas, podendo haver progressão tumoral e desfechos desfavoráveis.